quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Entrevista com Radiola Serra Alta


radiola-edit-4dea5773b9697.jpgEm meio ao turbilhão tecnológico de maquinas que falam e computadores que nos escravizam duas figuras vem para criar um paradoxo entre a tradição e a contemporâneo, é o Radiola Serra Alta, que numa mistura de música eletrônica a levadas de maracatu, frevo, coco etc criam uma atmosfera musical que nos orgulha da produção independente do nosso Estado. 



ZUADA DO SERTÃO: Inicialmente parabéns pelo trabalho e como surgiu a ideia de mesclar a batida eletrônica à musica regional, além do conceito visual de vocês?


C.M.: Agradecemos também pela oportunidade do espaço em seu blog, muito importante sua iniciativa para nossa região. O diálogo entre o global e o local, a tradição e a modernidade sempre nos atraiu. Nos inspiramos em duas figuras tradicionais do Carnaval de Triunfo: o careta e a veinha. No sábado de Zé Pereira, eles surgem do meio do lago da cidade e lideram o cortejo do bloco. Mantemos essa estética, inclusive também com a preservação das identidades, que faz parte do ritual. Sim, vocês não vão saber quem somos! Temos orgulho de nossas origens. Continuamos sendo brincantes, mas que se valem de novos artefatos para produzir nossa folia.

patio_12_florapimentel-copia-4e8b7cf5e24b1.jpgZ.S: Como tem sido a receptividade da galera junto ao trabalho do Radiola Serra Alta?
C.M.: No início, para muitos é um impacto gigantesco, olhares de espanto e admiração, hehehehe....Mas é tudo muito visceral, uma "compreenção" inconsciente do corpo. O coco de roda, o frevo e outros ritmos pernambucanos entram sintonia com a forma de construção da música eletrônica, elas evocam o mesmo estado de consciência. Estamos muito felizes com o resultado.

Z.S: Como normalmente se dá o processo de composição, escolha de samples etc de vocês?
C.M.: Rapaz, é extremamente randômico, pode partir de qualquer coisa. Um sample de uma toada, nossas poesias, uma linha de baixo, um efeito de synth qualquer. Acreditamos no minimalismo das composições e o efeito mântrico do loop. Coisas simples produzem resultados psicológicos poderosos. Nossa maior meta é infectar o maior número possível de mentes com um vírus não letal chamado "munganga.exe" [isso é resenha, galera!] A gente produz com o Ableton Live, que é extremamente intuitivo. Para fazer a base usamos o Korg Electribe, sampler analógico que usamos também em nossa performance ao vivo.

radiola-copia-4e7881a6b7ef2.jpgZ.S: A cada dia o interior do nosso estado mostra seu potencial em termo de publico e bandas, e o exemplo disso é a realização do grito rock em cidades como Floresta, Arco Verde, Petrolina(além das paraibanas Princesa Isabel e Cajazeira), mas na sua opinião o que o interior necessita para que este movimento ganhe mais força e adeptos?
C.M.: Isso é fantástico! É necessário fomentar a cadeia produtiva da música independente em nossa região. Isso irá formar público, estimular os artistas e produtores. As pessoas não podem gostar daquilo que não conhecem. Infelizmente a monocultura musical em nossa região sufoca outros segmentos. Então, a solução é criar o próprio esquema. Só assim a coisa anda.

Z.S: E com relação à cidade de Triunfo a quantas anda o movimento por lá?
C.M.: Vai a mil! Aqui em Triunfo tem o Coletivo Ambrosino Martins, que promove vários eventos do segmento, como o Bota o Som Nelsinho, que esse ano já trouxe My Midi Valentine, o Careta Amp e o Mugunzá Sonoro. Em julho vai rolar o Forum Social Cultural de Triunfo, para discutirmos sobre produção cultural na região. No segundo semestre está previsto o lançamento do primeiro disco do RSA e da Ambrosino Martins, estamos muito empolgados. No Carnaval tem o Boizinho do Vaiquemqué, que está completando 15 anos esse ano. O Coletivo também dá suporte aos artistas locais, como acessoria em contratos, suporte para elaboração de projetos e oficinas culturais.

Z.S: Como sabemos este ano completaram-se 15 anos da morte do ícone Chico Science. Até onde o trabalho desenvolvido pelo Chico e a Nação Zumbi influencia o trabalho do Radiola Serra Alta?
patio_35_florapimentel-4e8b7c79aef45.jpgC.M.: Somos mangueboys! CCNZ é mais que uma referência estética, é um estado de espírito. Ele nos provou que podemos fazer do mundo um grande laboratório sonoro, sem limites territoriais. Nos fez acreditar em nossos potenciais, como artistas pernambucanos. Somos cidadãos do mundo. Também somos muito ligados em Tom Zé, Hermeto Paschoal, Nelson Triunfo. Curtimos muito o som de Fabrício Ramos, nosso conterrâneo, que iremos acompanhá-lo em sua nova turnê. 

Z.S: Para finalizar deixo a palavra com você brother?
C.M.: Acunha, sampler!

Entrevista: Jéfferson Desouza

Um comentário:

  1. Muito boa a sonoridade dos caras que misturam a regionalidade sonora a vanguarda tecnológica. Salve o som que vem do alto da serra.

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